Campo Formoso é um município da região norte/PEBA, com 71.377 mil habitantes, sendo aproximadamente 26 mil residentes na zona urbana e 44 mil na zona rural, com um território extenso de 7.161km² com 161 povoados que se dividem em 08 grandes regiões, entre elas, dois grandes povoados Quilombolas, que ficam aproximadamente há 100km² da sede, o que representa um desafio para gestão pública devido à distância dos povoados, bem como a demanda de saúde nestas localidades. Sendo assim, no que concerne à saúde a mental, o município possui: 01 CAPS I, 01 Centro Avançado de Especialidades, com ambulatório de saúde mental, 02 SAMU, 01 Equipe do Emulti, 23 ESF e 01 Hospital Geral. Pensando nessa grande extensão territorial e na dificuldade de acesso a RAPS, o departamento de Saúde mental iniciou no ano de 2021 o trabalho de itinerância para o matriciamento da rede, visto que os usuários do CAPS estavam afastados do serviço devido ao período pandêmico, além de averiguar dificuldades das ESFs em lidarem com as demandas de saúde mental no contexto territorial, sensibilizando as equipes para propiciar a adesão e acompanhamento do tratamento desses usuários. Surgindo daí, a necessidade da organização RAPS, com a criação do Fluxograma de Saúde Mental do Município, através de uma dinâmica eficiente na organização do acesso e no encaminhamento efetivo para os dispositivos da rede, através da construção técnica compartilhada entre equipes multidisciplinares.
Geral: Descrever o processo de implantação do Fluxograma de Saúde Mental no município de Campo Formoso-BA, aumentando a qualidade do cuidado em saúde mental em todo território e matriciamento da rede. Específicos: •Identificar a demanda de Saúde Mental em todo o município de Campo Formoso-BA •Destacar o potencial do matriciamento na rede a partir da itinerância •Compreender as especificidades de cada território, explorando as dificuldades dos usuários no cuidado à saúde mental •Entender as dificuldades das equipes e dispositivos no atendimento ao usuário de Saúde Mental •Ampliar o acesso e a inclusão dos usuários, diminuindo as barreiras no cuidado.
O presente trabalho trata-se de um relato de experiência que iniciou no ano de 2021, pela equipe técnica do CAPS que identificou durante o período pandêmico o afastamento dos usuários ao serviço, o que motivou a equipe a conhecer e se aproximar da realidade territorial desses usuários e compartilhar a rede de cuidado em saúde mental. A equipe técnica do CAPS utilizou da itinerância como estratégia de matriciamento para compartilhar o cuidado especializado in loco com as equipes de saúde mais distantes da sede e com maior queixas de usuários com transtornos mentais e usuários de álcool e outras drogas. Durante os anos de 2021 à 2023 foram realizados 55 ações de itinerância em alguns povoados do munícipio, sendo que no povoado quilombola de Lage dos Negros (100km da sede), essas ações ficaram permanente mensal, devido o grande quantitativo de usuários. O matriciamento ocorreu de maneira integrada com as ações de itinerância, obedecendo as demandas e dinâmica de cada equipe de saúde, com a oferta dos serviços do CAPS nas unidades de saúde. Também foram feitas, qualificações técnicas para os profissionais da rede, a fim de compreender as especificidades de cada localidade. Assim, foi feito o desenho prévio da rede, o que culminou na criação do Fluxograma de Saúde Mental do município no ano de 2022, tendo a sua apresentação e aprovação no Conselho de Saúde em 31 de agosto de 2022 e na CIR regional em 05 de abril de 2023.para os secretários, como modelo de experiência exitosa.
A implantação do Fluxograma de saúde mental não serviu apenas para organizar um caminho a ser percorrido, mas principalmente para ser referência em modelo de cuidado para demais municípios. Todo o caminho percorrido, desde o matriciamento a partir da estratégia de itinerância até a implantação do fluxograma levaram em torno de 2 anos para se concretizar, o que se configura numa tarefa que requer muito cuidado e trabalho em equipe, visto que trata-se da saúde da população, que residem em sua maioria na zona rural do município e requerem deslocamento para o serviço de saúde mental. Entre os povoados que foram feitas as ações, totalizando mais de 3.000 mil atendimentos psicossociais ofertados através da equipe do CAPS, podemos citar: Lage dos Negros (100 km), São Tomé (82,5 km), Brejão da Caatinga (70 km), Lagoa do Porco (41 km), Tiquara (28 km), Curral da Ponta (7,7 km), Baixio (8,5 km) e Araras (55 km). É válido enfatizar que a equipe CAPS ainda retorna a estes povoados para continuidade do cuidado no território. É necessário ressaltar também que foi observada a diminuição de casos de internação psiquiátrica após a efetivação do fluxograma. O número de usuários residentes no território do município encaminhados para o internamento no Sanatório Nossa Senhora de Fátima da cidade Juazeiro – Ba no ano de 2021 foram de 41 internações, já no ano de 2022 foram feitos 39 e por fim, no ano de 2023, o número caiu para 28, contribuindo para se tornar referência para outros municípios.
A experiência serve de inspiração e consolidação da importância da implantação do fluxograma de saúde mental para facilitar o atendimento efetivo e direcionado para as demandas da RAPS, focando no aumento da qualidade do cuidado em saúde mental. As ações territoriais, com atendimentos na localidade dos usuários contribuíram para consolidar a efetivação do Fluxograma, visto que as equipes promovem intervenções conjuntas, garantindo o direito e fácil acesso em saúde mental por todos os usuários, além de garantir o feedback da população e das equipes, como também a diminuição das crises emergenciais e internamentos psiquiátricos. O matriciamento com os demais componentes da RAPS, melhora a comunicação e o atendimento integral dos usuários, evitando que o CAPS funcione somente como ambulatório em saúde e mostre, com exemplo prático, para outros municípios e profissionais de saúde, o modelo seguido para implantação do fluxograma de saúde mental e os ganhos no cuidado não só da Saúde Mental, como da Saúde Coletiva elevando o acesso aos dispositivos da RAPS, para além da atenção ambulatorial para um apoio técnico-pedagógico para demais municípios e a consolidação do SUS que queremos e podemos JUNTOS.