No contexto da Saúde Coletiva, as ações de educação e promoção em saúde têm sido alvo de interesse constante, com intervenções realizadas em diferentes contextos. A presença de equipes multiprofissionais em ambiente como as feiras livres, desafia não só a compreensão das estratégias, mas também, o impacto dessas ações nas comunidades. Composta por profissionais de diversas áreas como enfermagem, psicologia, nutrição, odontologia, fisioterapia, assistência social e educação física, essa abordagem traz perspectivas complementares para a ação interdisciplinar nas necessidades de saúde da população com uma comunicação de fácil compreensão e adaptada ao contexto. A prática da educação popular em saúde evoluiu ao longo dos anos, de orientação normativa para diálogo transformador de saber. Nesse sentido, passa a ser desenvolvida da associação de conhecimentos e experiências não apenas do ponto de vista do profissional, mas principalmente dos usuários, com vistas a facilitar ações pertinentes à saúde de uma população, na perspectiva da proteção de doenças e promoção da saúde. Desta forma, as ações de educação em saúde nas feiras livres, contribuem para a divulgação do saber científico, uma vez que, a compreensão dos condicionantes do processo saúde-doença, se torna de domínio popular, fornecendo subsídios para o protagonismo e autonomia do usuário na adoção de novos hábitos e condutas de saúde, o que torna o poder de decisão mais democrático (ALVEZ, 2015).
Considerando o atual contexto social, o pressuposto deste estudo foi de que o ambiente informal da feira livre pode ser considerado como um espaço facilitador para a aproximação dos profissionais de saúde à parcela da população que não frequenta as unidades de saúde, especialmente as da atenção primária. Portanto, foram realizadas as seguintes questões norteadoras: como a equipe multiprofissional pode aproveitar os ambientes informais para a realização de ações de educação e promoção em saúde? quais ações de educação e promoção em saúde são possíveis de serem realizadas com sucesso no ambiente da feira livre? Frente a estes questionamentos, o estudo teve como objetivo: relatar a atuação da equipe multiprofissional sobre as ações de educação e promoção em saúde através de uma barraca na feira livre, no município de Mairi, Bahia, Brasil.
Trata-se de um estudo observacional, descritivo, do tipo relato de uma experiência, no qual foi retratado o desenvolvimento das ações de educação e promoção em saúde na feira livre. As ações ocorreram no período de março de 2023 a março de 2024.O campo de pesquisa foi o município de Mairi, Bahia, Brasil, o qual possui 17.764 habitantes (IBGE, 2022), dista da capital em 284 km, tendo como Macrorregional de Saúde a Centro-Norte. Possui no total 185 profissionais de saúde cadastrados (CNES, 2023), sendo 16 da equipe multidisciplinar. A equipe à frente das ações era composta por enfermeiros, psicólogos, cirurgião-dentista, fisioterapeuta, educador físico, nutricionista e assistente social. A produção e coleta de dados consistem na análise documental de diários cartográficos e listas de participantes das ações. Para a sistematização e análise dos dados coletados, foi utilizada a Matriz FOFA (Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças). Os pontos fortes são os aspectos positivos em relação ao serviço oferecido os pontos fracos são os aspectos negativos que podem ser controlados pela própria equipe e são relevantes para o desenvolvimento da ação as oportunidades são os aspectos positivos em relação ao serviço que não podem ser controlados pelos organizadores, já as ameaças são os aspectos negativos dos serviços ofertados que não podem ser controlados pela própria organização e são relevantes para a ação de educação e promoção da saúde.
O ambiente no qual se desenvolve as ações de saúde, tem se tornado cada vez mais dinâmico e desafiador devido às características epidemiológicas da população. No período observado, foram realizadas 25 atividades de saúde na feira livre, sendo abordados 18 temas de educação em saúde e atingindo um público de cerca de 885 pessoas. Nas ações foram ofertados também serviços como orientação nutricional, acolhimento psicológico, avaliação bucal, aferição de pressão arterial, aferição de glicemia capilar e realização de testes rápidos para IST’s, totalizando cerca de 630 procedimentos minimamente invasivos realizados pela equipe multiprofissional, prestando-se assistência ao público local. Através da utilização da Matriz FOFA, foram identificados os seguintes aspectos: como Fortalezas, a disponibilidade dos profissionais para realização das ações e o apoio da Secretaria Municipal de Saúde como Fraquezas, a possível descontinuidade do projeto devido à rotatividade dos profissionais e a dificuldade de reservar parte da carga horária dos profissionais para atividades externas às Unidades de Saúde como Oportunidades, a disponibilidade de espaço oferecido pela coordenação do mercado municipal local e a presença de parte da população advinda da zona rural, ampliando o público atingido e como Ameaças, a resistência da população para adotar as práticas de autocuidado e pouca privacidade para a realização de procedimentos como testes rápidos.
As práticas de saúde precisam existir e funcionar de modo articulado, em relação aos cuidados realizados e prestados, promovendo saúde de forma objetiva, sem desvalorizar saberes, práticas e contextos particulares a cada pessoa. Conclui-se, portanto, que a barraca da saúde possibilita o reconhecimento de diferentes realidades e necessidades do público-alvo. A partir das trocas entre comunidade e profissionais, cultura popular e conhecimento técnico, os benefícios dessas ações ocorrem em ambas as direções. Para a população, é de extrema importância o acesso a temas que proporcionam e facilitam o cuidado consigo, familiares e amigos, entretanto, ocorre concomitantemente, o desenvolvimento e aprimoramento do profissional, que tem a oportunidade de trabalhar multidisciplinarmente, aprimorando suas habilidades e competências para um bom trabalho em equipe, com foco no bem-estar da população. Destaca-se, portanto, a importância e necessidade do fomento de ações comunitárias, principalmente em espaços informais como as feiras livres, como força motriz do diálogo entre profissionais de saúde e comunidade, fortalecendo os vínculos e promovendo a autonomia para o autocuidado diante das necessidades das pessoas em cada território.