As melhorias do sistema de saúde com vistas a promover o bem-estar da população requerem das esferas de gestão, um processo de planejamento consistente, tecnicamente fundamentado e que seja construído de modo estratégico, com tecnologias e métodos adequados ao contexto e às necessidades identificadas. Impulsionada pela necessidade de informação oportuna num contexto agravado pela dicotomia entre a saúde e a economia, a tomada de decisão rápida e precisa em decorrência do enfrentamento da pandemia da COVID 19, remete à necessidade de organização e ao consequente planejamento, necessitando repensar o modo de fazer saúde com novos recursos e novos desafios. Para isso, foi necessária a realização da reconstrução do Plano Municipal de Saúde (2017-2021) no ano de 2020, que rompeu a quebra do ciclo de quatro para dois anos, e que trouxe o despertar do processo de planejamento em saúde local como método/prática no município de Mairi, Bahia, Brasil. Este possui 17.764 habitantes, dista da capital em 284 km e tem como Macrorregional de Saúde a Centro-Norte. Tendo em vista o que diz Paim, se a prática do planejamento é socializada, um número cada vez maior de servidores públicos passa a ter conhecimento do significado do seu trabalho, começaram a fazer sentido, mais do que nunca, enfocar suas interfaces e suas correlações com o planejamento em saúde e o foco na dimensão relacional.
Este relato busca discorrer sobre a dimensão relacional do planejamento em saúde como subsídio para reorganizar as práticas de gestão e de cuidado no cenário da Pandemia de COVID-19, no município de Mairi, Bahia, Brasil.
A abordagem deste estudo é realizada pelo método qualitativo, tipo estudo de caso, que possui caráter descritivo-exploratório. As razões que levaram o pesquisador a eleger o tema de pesquisa estão diretamente relacionadas à definição de como ocorreram os processos de planejamento estratégico em saúde na dimensão relacional na Secretaria Municipal de Saúde de Mairi, Bahia, Brasil. Os dados foram coletados no período de 2020-2021 nas AtAs de reunião do Conselho Municipal de Saúde e nas oficinas de alinhamento para condução de ações durante a pandemia. Para a sistematização dos dados coletados nesse estudo foi utilizada a Matriz FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças) sendo aprimorada adicionando níveis de análise do PMS que possuíam relação com a dimensão relacional. Os pontos fortes foram aspectos positivos em relação ao serviço oferecido os pontos fracos foram aspectos negativos da organização em relação ao seu produto/serviço que podem ser controlados pela própria organização e relevantes para o planejamento estratégico as oportunidades foram os aspectos mais positivos do serviço da organização em relação ao serviço prestado que não podem ser controlados pela própria organização e relevantes para o planejamento estratégico e em relação às ameaças foram os aspectos mais negativos dos serviços da organização em relação ao serviço que não podem ser controlados pela própria organização e relevantes para o planejamento estratégico.
O ambiente no qual se desenvolve a gestão de saúde, seja ela de natureza pública ou privada, tem se tornado cada vez mais dinâmico e desafiador devido às das características epidemiológicas da população, o desenvolvimento tecnológico e as alterações político-econômicas, impondo a necessidade de equacionar os meios e os fins com a tensão advinda das mudanças de políticas de saúde vigentes no Brasil nas últimas décadas. Entre os principais desafios desse setor estão os diversos atores e os ambientes internos e externos envolvidos nesse processo. Como fatores internos, o colegiado gestor é apontado no quadrante de fortaleza, e a gestão do trabalho, no quadrante das fraquezas. Como fatores externos no Plano Municipal de Saúde de Mairi estão à gestão da educação em saúde como uma oportunidade e a comunicação em saúde como uma ameaça. Após aplicação da Matriz FOFA e identificação dos fatores internos e externos presentes no Plano Municipal de Saúde de Mairi, foi construído um Mapa Conceitual baseado em mapas estratégicos. Essa ferramenta viabilizou a proposta da classificação da dimensão relacional em quatro áreas de atuação – Gestão do Trabalho, Gestão da Educação em Saúde, Colegiado gestor e Comunicação em saúde –, com temas específicos a cada área de atuação que traz o desenho da dimensão relacional do processo de planejamento em saúde do município de Mairi, Bahia, no período de 2020-2021.
Neste relato, apresentou-se a busca por dar significado à jornada de trabalho, utilizando-se o planejamento estratégico em saúde no qual se acreditou na necessidade de focar nas atividades que promovem as inter-relações, verificando o grau de autonomia e as características de resiliência social, apreendendo o modo como a informação flui entre os profissionais de saúde. O sentido é encontrado a cada passo dado, ao teorizar e fazer, ao utilizar instrumentos, ferramentas e técnicas. A utilização da Matriz FOFA como ferramenta na análise documental do Plano Municipal de Saúde de Mairi foi item fundamental para a construção desse processo, que facilita seu entendimento e tem potencial de divulgação pelos multiplicadores e pelos colegiados gestores. Nessa perspectiva, as análises dos ambientes externos e internos reforçaram a importância das relações no planejamento estratégico em saúde e demandaram da reflexão como fator que pode tanto facilitar quanto dificultar a formulação e implementação de estratégias de saúde eficazes. Assim, acredita-se que a caracterização da dimensão relacional para o planejamento em saúde facilita notavelmente a compreensão dos processos entre seus membros e a efetivação dos serviços planejados.