A violência contra à mulher é um problema de saúde pública que acontece sistemicamente no Brasil e no mundo. Segundo a OMS o impacto na saúde e bem-estar da mulher é dimensional. O presente trabalho teve por objetivo estabelecer diretrizes para o enfrentamento às violências sofridas pelas vítimas de violência e qualificar os profissionais no âmbito da atenção primária para o enfrentamento às violências sofridas por mulheres no âmbito do SUS com ênfase na escuta ativa, intervenção e encaminhamentos adequados, de forma a garantir um atendimento integral e protetivo e que esteja de acordo com as legislações. Dessa forma, o propósito deste relato será discorrer como foi a vivência da intervenção da residente com as equipes de Saúde da Família nas UBS do território do bairro Tancredo Neves da cidade de Paulo Afonso Bahia no período de março e abril de 2024.
A proposta de matriciamento sobre a temática “O sus e violência contra a mulher na atenção primária” voltada para profissionais da ESF como forma de prevenção e construção de estratégias ao enfrentamento. No campo da saúde, a atenção primária constitui como porta de entrada principal do SUS. Podendo ser um dos espaços privilegiados para identificação das pessoas em situação de violência e fundamental para articulação dos serviços de proteção.
Esse trabalho configura-se como relato de experiência da proposta de intervenção em saúde para propiciar uma reflexão coletiva sobre o tema, expandindo espaços de diálogo e construção de saberes. Optamos pela diretriz de Educação Permanente em Saúde (EPS). Uma das formas de operar o EPS no dia a dia das equipes se dá no desenvolver do Apoio Matricial (AM). Como base nisto realizamos três oficinas junto a profissionais de três equipes de Saúde da Família do município destacado. Agentes comunitários de saúde, dentista, médico, auxiliar de saúde bucal, técnica de enfermagem, médico compondo uma média de 15 participantes por unidade. As oficinas foram realizadas em momentos diferentes, sendo desenvolvidas encontros semanais durante o mês de março até abril. As atividades aconteceram em uma sala de práticas coletivas da própria UBS. Cada encontro teve duração aproximada de uma hora e meia. Durante a realização da oficina foram utilizados dispositivos (música, desenho da árvore e frutos, slides, poema, panfletos) A dinâmica da árvore demostrando as raízes da violência, compreendendo ser multifatorial, e os frutos que elas geram. Cada fruto continha um tipo de violência tipificada na Lei maria da Penha. Além da dinâmica foi apresentado os dispositivos legais, os tipos de violência, denúncia, notificação, acolhimento e o SUS, orientações aos encaminhamentos e aos atendimentos à vítima de violência. Enfatizando a importância do registro no SINAM e Rede de proteção.
A intervenção realizada promoveu vários efeitos positivos, a iniciar pela própria oportunidade de promover encontros para discussão com temas transversais nas instituições, fornecendo subsídios as equipes para que de forma segura e humanizada, garantam a qualidade da assistência na atenção primária. O matriciamento contempla todos que nesta atuam. É um instrumento capaz de desenvolver o conhecimento científico dos profissionais e aprimora as propostas terapêuticas e habilidades em relação às competências técnicas, a fim de promover mudanças de hábitos e institucionais. O encontro possibilitou a troca de experiência, a notabilidade de potencializar os vínculos e o cultivo de temas relevantes no território. Observou-se que durante as oficinas boa parte dos profissionais afirmou nunca ter participado de espaço sobre a questão. Demostraram interesse sobre a temática, manifestado através da interação com a residente, por meio de relatos de suas vivências e das respostas aos questionamentos.
Por meio desta proposta de intervenção em saúde, foi possível sistematizar e oferecer para a rede de APS de Paulo Afonso/BA um processo de matriciamento sobre a temática a violência contra a mulher, voltada para profissionais da ponta, como forma de prevenção e construção de estratégias de enfrentamentos, atendendo assim os objetivos deste trabalho. Através desta experiência pode-se observar que a maioria dos profissionais se sentem despreparados para lidar com a violência presente no território. A fragilidade da rede local de cuidados à mulher em situação de violência e o medo do envolvimento nos casos são algumas razões pontuadas pelos profissionais. Ao final, conclui-se a necessidade de outras iniciativas sejam desenvolvidas sobre a temática, visando aperfeiçoar os seus conhecimentos e intervenções frente a estes.