As feridas complexas representam um problema de saúde pública que atinge tanto homens quanto mulheres, onde vem sendo analisado as condições de vida da sociedade atual, que, com sua maior longevidade, tem sido ainda mais acometida por doenças crônicas que provaram para o aparecimento de lesões e fragilidade da pele. Cabe salientar que o cuidado de feridas é um processo dinâmico, complexo e que requer uma atenção especial principalmente quando se refere a uma lesão crônica. Deve-se levar em consideração que as feridas crônicas evoluem rapidamente, são refratárias a diversos tipos de tratamentos e decorrem de condições predisponentes que impossibilitam a normal cicatrização. Uma forma eficaz de cuidar de feridas agudas e crônicas é a implementação do Serviço de Atenção Domiciliar (SAD), que enfatiza a “cuidado no conforto do seu lar” e visa garantir a continuidade do cuidado. Este serviço tem a proposta da oferta do cuidado no domicílio do paciente e proporciona um conjunto de ações com equipe multiprofissional. As feridas não só físicas, mas também emocionais, estão integradas em tal totalidade desse sujeito. No SAD, a psicologia possibilita um espaço de subjetividade, favorecendo a manifestação do ser como um todo, percebendo-o em sua individualidade, permitindo que expresse suas preocupações, sensações e sentimentos, portanto, suas feridas existenciais. Ao trabalharmos com o corpo vivido, damos ao paciente uma possibilidade de expressão e o resgate de sua condição humana.
Relatar experiência vivenciada no cuidado domiciliar a pacientes portadores de feridas enfrentado por toda equipe multiprofissional de saúde apresentar dentro do cuidado domiciliar como é possível identificar todo o entorno que envolve o paciente e suas feridas, facilitar estratégias que favoreçam ao tratamento promover a proteção da saúde do paciente e sua família.
Trata-se de um relato de experiência descritivo, tendo como característica a contribuição de uma equipe multiprofissional do Programa Melhor em Casa enquanto assistência mediante as lesões dos pacientes em restrição domiciliar, ressaltando a eficácia dessa equipe na qualidade de vida desses indivíduos, que visa garantir uma assistência domiciliar individualizada. Desse modo foi realizada em 03 etapas, a primeira foi observacional onde causou inquietude na equipe a complexidade do paciente com ferida crônica e seus impactos na convivência da sociedade. A segunda etapa foi a prática do cuidado assistencial somado ao suporte emocional da psicologia desse indivíduo, além de contar com uma abordagem simples e uma comunicação acessível para facilitar o diálogo com o paciente e familiares, podendo incluí-los como integrantes fundamentais no processo saúde-doença e reinseri-lo ao meio social. A terceira foi o levantamento dos dados realizado entre outubro de 2022 e janeiro de 2023.
Foram realizados 198 atendimentos de psicologia na residência dos pacientes com lesões crônicas e 367 curativos em um período de 04 meses sendo outubro de 2022 e janeiro de 2023. Dessa forma, é importante compreender o ser humano em seu modelo biopsicossocial, onde tais concepções de saúde e doença se ampliam em suas dimensões fisiológicas, sociais, existencial, espirituais e psíquicas. Ao se ter em vista tal modelo holístico do homem, implicando-se em sua totalidade enquanto sujeito, não o reduzimos o mesmo em um rótulo ou uma mera classificação do status de doente, dar-se a ele um sentido e significado diante de tal sofrimento. Foi percebido um ganho exponencial ao tratamento clinico do paciente, onde tiveram relatos importantes de melhoria da autoestima e reintegração do convívio familiar e sociedade.
Assistência prestada pelo Serviço de atenção domiciliar se faz de suma importância aos pacientes que necessitam ser acompanhados em suas residências por acometimento de lesões, pois oferta uma assistência holística, considerando o biopsicossocial do paciente em uma assistência individualizada, sendo capaz de promover saúde, prevenir agravos e realizar tratamento das lesões com o apoio da equipe multidisciplinar e dos cuidados familiares, estabelecendo uma continuidade da assistência, para que não haja uma ruptura no tratamento, tendo uma comunicação em rede. As lesões dos pacientes em restrição domiciliar não são apenas físicas, mas muito mais psicológicas. Hoje na sociedade em qual estamos inseridos percebe-se que o corpo é cultuado sempre em busca do referencial de beleza ditados pela mídia e qualquer desvio desse padrão é suficiente para que o corpo seja considerado diferente, estranho, fora da norma. Logo é preciso saber lidar com o paciente de modo a criar vínculo e estabelecer confiança, garantindo a integralidade da assistência de forma humana e holística afim de garantir a qualidade de vida desses indivíduos.