USUÁRIOS DO CAPS SÃO DO SUS, NOSSO E DE TODOS: A ITINERANCIA COMO PONTE.

Apresentação

O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é um dispositivo de Saúde Mental, considerado uma estratégia de cuidado e organização da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Trata-se de um serviço de portas-abertas do Sistema Único de Saúde (SUS) e é referência no tratamento de pessoas que apresentam sofrimento psíquico, transtornos mentais graves e crônicos, incluindo também as demandas referentes ao uso abusivo de álcool e substâncias psicoativas. Desse modo, ofertam o cuidado especializado e comunitário de forma contínua por meio de acompanhamento clínico com o objetivo de reinserção social e familiar através do desenvolvimento da autonomia dos usuários, com o desafio de sair da instituição e torna-se um lugar que não só acolhe as pessoas, mas que promova articulação social e intersetorial, com ações e espaços sempre ampliados e estruturados para ocupar outros territórios. O município de Campo Formoso-BA de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021 estima-se que há 71.754 habitantes em todo o território, organizados no interior e sede do município. O CAPS fica localizado na sede, com uma distância de algumas localidades de aproximadamente 100 quilômetros. Sendo assim, a fim de garantir o cuidado integral desses usuários, foi o realizado o projeto do CAPS itinerante para sensibilizar da importância do tratamento em saúde mental no território.

Objetivos

O objetivo principal desse projeto foi sensibilizar as equipes de Saúde da família, que os usuários do CAPS são usuários do SUS, em sua integralidade e com o direito de ser acompanhado em seu território com o suporte da equipe de Saúde da família, assim como com a equipe especializada da saúde mental, proporcionando a “desmistificação” de que os pacientes com transtornos mentais e usuários de álcool e outras drogas são acompanhados e encaminhados apenas para os CAPS. Específicos: •Identificar a demanda de Saúde Mental em todo o município •Realizar Matriciamento com a Rede em todo o território •Compreender as especificidades de cada território, explorando as dificuldades dos usuários para se locomoverem até a unidade do CAPS •Entender as dificuldades e resistências das equipes de Saúde da família no atendimento ao usuário de Saúde Mental •Promover acessibilidade e inclusão aos usuários •Diminuir as barreiras no cuidado dispensadas aos usuários.

Metodologia

O Projeto do CAPS Itinerante teve seu inicio após identificação da demanda de atendimentos em saúde mental por meio do Matriciamento com as equipes de Saúde da família. Na oportunidade foi possível compreender as particularidades de cada território, as dificuldades das equipes no atendimento e dos usuários na locomoção até a unidade na sede. O projeto foi efetivado em janeiro de 2022 na localidade de Lage dos Negros, região quilombola que está há aproximadamente 96 quilômetros da sede da cidade, se estendendo para outras localidades da zona rural preferencialmente mais distantes da sede ou que apresentavam uma alta demanda de transtorno mental e uso abusivo de álcool e outras drogas, como as seguintes localidade: Brejão da Caatinga (62 km da Sede), São Tomé território quilombola (83 km), Araras (54 km), Lagoa do Porco ( 46 km), Tiquara (29,6km) e Baixio (16 km). A equipe multidisciplinar do CAPS e seus serviços foram ofertados dentro das unidades de saúde visitadas, com a presença dos profissionais e serviços que compõem a unidade. No que se refere ao quantitativo de ações itinerantes, pode-se expor que no ano de 2022 foram realizadas vinte (20 )ações. É importante destacar que a identificação da demanda, agendamento e acolhimento nas ações eram de responsabilidade dos profissionais das unidades de saúde da família, proporcionando um verdadeiro compartilhar de espaço, equipes e de sujeitos, no atendimento dos usuários em seu território.

Resultados

A ação itinerante é uma abordagem que busca levar os serviços de saúde mental para comunidades ou áreas geograficamente distantes, onde o acesso a esses serviços é limitado. Essa prática fornece atendimentos de qualidade a pessoas que de outra forma não teriam acesso a ele, além de proporcionar à redução das dificuldades no acesso a saúde mental e garantia de que mais usuários recebam o cuidado de que precisam. Com essa ação itinerante pôde-se observar a aproximação da equipe especializada do CAPS com as equipes de saúde da família, além disso, a aproximação dos pacientes com transtornos mentais e de uso de álcool e ou outras drogas, assim como seus familiares na unidade de saúde da família. Como também pôde proporcionar que os profissionais da atenção básica pudessem conhecer e acompanhar de forma compartilhada e integral os pacientes que também realizam tratamento no CAPS. E assim ampliando o olhar do cuidado integral e compartilhado dos sujeitos em seu território.

Conclusões

Compreender o território onde as pessoas vivem requer mudanças de olhares, ações e investimento. Com a implementação desse projeto, foi possível averiguar melhor adesão ao tratamento, aumento de pacientes ativos, diminuição das crises psiquiátricas dos pacientes mais graves, facilitação do acesso à medicação de controle, redução dos custos financeiros para deslocamento, sentimento de inclusão e pertencimento a uma comunidade, pois estão recebendo acolhimento no seu território. Além disso, foi observado que os profissionais da atenção básica quebraram barreiras da resistência e preconceito do acolhimento e acompanhamento das demandas de saúde mental e se sentindo acolhidos e pertencentes a Rede de Atenção Psicossocial, a partir do momento que perceberam que a Saúde Mental não está no tratamento exclusivo do CAPS, a Saúde Mental está em todos os lugares e ofertada por todos do SUS, pautado na descentralização, novos caminhos e trabalho em conjunto com a rede de cuidado.