AMBULATÓRIO PSICOSSOCIAL DE PORTAS ABERTAS - UMA EXPERIÊNCIA DE INTEGRALIDADE DO CUIDADO.

Apresentação

A inquietação deste trabalho surgiu após alocação de duas profissionais com experiência na atenção primária a saúde (APS) para integrar a equipe técnica do ambulatório psicossocial, no primeiro semestre de 2022. No momento da realização do acolhimento aos usuários que buscavam atendimento no serviço, foram observados diversos encaminhamentos inadequados. Esta problemática revelou o distanciamento da APS do ambulatório psicossocial, ocasionado pela deficiência na articulação da rede de atenção à saúde mental do município de Itabuna-BA com a ordenadora do cuidado, contribuindo para o fortalecimento do estigma relacionado aos usuários que convivem com algum transtorno/sofrimento psíquico. Nesta perspectiva, foi elaborado o projeto ambulatório de portas abertas visando aproximar os profissionais da atenção primária da realidade do serviço, através da socialização de conhecimentos acerca dos transtornos mentais e do fluxo da rede, promovendo assim clareza na comunicação, fortalecimento dos vínculos, ampliando o olhar para o pertencimento deste usuário às unidades de saúde de referência, reconhecendo como sujeito.

Objetivos

•Orientar o fluxo de atendimento da rede de saúde mental do município, com enfoque na rotina de funcionamento do Ambulatório Psicossocial •Proporcionar momento de integração entre os participantes, levando a reflexão da temática do janeiro branco 2023: A vida pede equilíbrio •Desmistificar alguns mitos e verdades que envolvem o sujeito em sofrimento psíquico • Ampliar as ações colaborativas com as equipes de saúde da família, tendo como produto o fortalecimento da rede de atenção à saúde e contribuindo para melhoria da integralidade na assistência

Metodologia

Trata-se de um relato de experiência do Ambulatório Psicossocial de Itabuna -BA (API), que acontece desde o período do primeiro semestre/ 2023. O projeto foi elaborado para aproximar o API da APS, através da realização de atividades educativas. Foram planejadas reuniões operativas com as ESF e estabelecido que cada atividade teria em média 10 participantes por vez foi definido público alvo: agentes comunitários de saúde e enfermeiros das ESF, por serem o elo direto com a população.O encontros foram programados para acontecerem em 01 turno. Foi desenvolvido um roteiro para direcionar a atividade: 1. realização dinâmica, onde foi solicitado aos participantes equilibrar com mãos uma caneta com o colega à direita e outra à esquerda até o local da reunião em seguida foram dispostos em forma de círculo, onde fizeram leitura e reflexão de palavras chaves (acolhimento, diálogo, respeito, escuta sensível, autoconhecimento, espiritualidade, perdão, gratidão, diálogo, solidariedade, apoio, empatia) 2. Foi apresentado breve panorama da prevalência dos transtornos mentais no Brasil e no mundo e o impacto do adoecimento mental na vida produtiva 3. Verbalizada 06 afirmações acerca da saúde mental, e os participantes emitiam opinião utilizando placas sinalizadoras de cores diferentes para sinalizar mito/verdade4. Apresentadas as rotinas do API e entregue impresso com fluxo da rede de atenção saúde mental de Itabuna-BA.

Resultados

A primeira reunião aconteceu em janeiro/2023, onde uma equipe convidou um profissional do API para fazer uma atividade educativa em alusão ao janeiro branco aproveitando a oportunidade, foi dado ponto de partida ao projeto e a equipe foi convidada a vir ao API. Foi observado que a maioria dos profissionais não tinham conhecimento a cerca do perfil de usuários a serem encaminhados para as diferentes unidades de saúde mental do município, bem como desconheciam as rotinas do API (agendamento médico, enfermagem, psicológico, além de esclarecimentos sobre visitas domiciliares do psiquiatra, e forma de acesso), nesta oportunidade foram enfatizadas as orientações a cerca da conduta nos casos de emergência psiquiátrica (surtos e ideação/comportamento suicida) foi observada receptividade dos participantes e discutido sobre a importância do cuidado em saúde mental dos profissionais, buscando gestão do cuidado de forma equilibrada. As discussões foram ricas para quebrar paradigmas preconceituosos a cerca do sofrimento psíquico e do tratamento em saúde mental foi um momento para fortalecimento de vínculos entre os profissionais da APS com API. Além disso, alguns profissionais que participaram da atividade identificaram que estavam com a saúde mental comprometida e passaram a ser acompanhados no ambulatório psicossocial Esta aproximação ampliou as ações do serviço como a busca ativa de pacientes faltosos.

Conclusões

Foi verificado que o momento de partilha tem sido uma oportunidade valiosa para reconhecer as fragilidades e as potencialidades dos serviços, sobretudo compreender que o conhecimento sobre o outro amplia o comprometimento e a criação de parcerias viáveis e sólidas. A temática de saúde mental ainda permeia muitos preconceitos e a necessidade de dar ao sujeito com sofrimento psíquico um lugar de visibilidade e protagonismo é uma construção diária e coletiva entre API e APS. A perspectiva do ambulatório psicossocial de portas abertas para a rede de atenção primária não tem o intuito de desorganizar o fluxo já estabelecido, haja vista ser um serviço especializado, mas serve para demonstrar acolhimento e ampliar as diversas nuances de trocas, de novos saberes, novas construções, novos desafios e arranjos. O incentivo por parte da gestão em valorizar a iniciativa inovadora, tem se tornado combustível para que a experiência continue a ser replicada e temos o objetivo de atingir 100% das ESF do município de Itabuna-BA.