OFICINAS TERAPÊUTICAS: PROMOVER O PROTAGONISMO E FORTALECER VÍNCULOS COMO PROPOSTA DE TRATAMENTO

Apresentação

A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) é um instrumento para o cuidado integral à saúde mental da população brasileira. A rede se apoia na Política Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde, que nacionalmente organiza as ações de promoção da saúde mental, prevenção de agravos, assistência e cuidado, bem como reabilitação e reinserção das pessoas com transtornos mentais. A rede é composta por serviços e equipamentos variados como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em suas diversas tipologias e portes. Tem o intuito de reintegrar o sujeito ao meio social, de modo que ele possa ser visto de forma integral, com suas singularidades, por meio de um cuidado ofertado por uma equipe multiprofissional e na perspectiva de um trabalho interdisciplinar. A Lei da Reforma Psiquiátrica trouxe mudanças no paradigma da atenção em saúde mental, uma vez que o modelo de cuidado que norteia essa área passou por modificações sociais, históricas e políticas ao longo do tempo. O projeto de Oficinas Terapêuticas do CAPS tem o intuito de fortalecer os espaços comunitários de convivência e promoção da saúde mental, acontece no próprio espaço físico da unidade e realiza encontros diários, promovendo atividades em grupo e constituindo uma das principais formas de tratamento. O público alvo é de homens e mulheres portadores de transtornos mentais. É um projeto viabilizado pelas oficineiras e com bastante adesão por parte dos usuários visto que é um espaço acolhedor, de socialização e interação

Objetivos

Geral: Contribuir para o processo terapêutico, possibilitando a reinserção dos usuários na sociedade através de encontros de vidas entre pessoas em sofrimento psíquico e promover a cidadania e expressão de liberdade, através de atividades realizadas em grupo. Específicos: 1. Desenvolver oficinas de artesanato, teatro, música, horta e reciclagem. 2. Proporcionar ações de assistência, cuidado, reabilitação e reinserção social aos usuários que participam das oficinas terapêuticas. 3. Fortalecer vínculos com os usuários portadores de transtornos mentais

Metodologia

O presente projeto caracteriza-se sobre as experiências das atividades realizadas em um CAPS I – Centro de Atenção Psicossocial Dr. Lindolfo Gonçalves de Aguiar, localizado no município de Caculé – BA, durante o horário de funcionamento do serviço do corrente ano. As ações desenvolvidas fundamentaram-se através de contato com a equipe do dispositivo de Saúde Mental, planejamento prévio das oficineiras através de estudos de materiais e artigos, buscando assim o embasamento teórico das práticas desenvolvidas. São realizadas cinco oficinas temáticas e uma prática de sala de espera como forma de acolhimento e divulgação. O projeto de oficinas terapêuticas tem como proposta atividades de artesanato, teatro, música, horta e reciclagem onde desenvolvem vivências da reabilitação psicossocial, bem como as questões subjetivas de cada usuário participante pois entendemos que as oficinas terapêuticas devem ser um espaço onde os usuários possam verbalizar suas vivências, construir vínculos com os participantes ali presentes e também possibilitar que a equipe possa intervir no processo de escuta e inclusão desses usuários que serão sempre o foco da atenção desenvolvida.

Resultados

Como resultados podemos verificar que o vínculo gerado com os profissionais da equipe do CAPS foi positivo e de grande valia possibilitando fornecer práticas de cuidado, levando em consideração a singularidade dos sujeitos. Possibilitou também ter acesso a alguns desafios: dificuldade de adesão dos usuários nas oficinas de modo constante e participação nas atividades propostas pela equipe, dissociando o viés apenas psiquiátrico do tratamento. Apesar disso, realizamos práticas onde os participantes se mostraram entusiasmados e participativos e com isso conseguimos alcançar os objetivos propostos pelas oficinas terapêuticas. Portanto, os recursos utilizados funcionaram para estimular e mediar situações de emoções, dores e a necessidade em comunicar nos momentos dos encontros. E assim, sendo construído um vínculo forte entre os usuários e oficineiras, bem como dos participantes entre si. Além de ser um momento de fala e voz para os usuários com transtornos mentais, as oficinas fazem sentido para a realidade de cada um, ajudando-os a construir novas trajetórias, na mesma medida em que desconstrói também preconceitos e estigmas.

Conclusões

O estereótipo injusto afeta a forma como os usuários interagem com os serviços de saúde e com o mundo, uma vez que a doença passa a ser o aspecto central da sua identidade. A situação da saúde mental da população é grave, e o descaso também. Fica evidente que as oficinas terapêuticas oportunizam, mediante o trabalho e a expressão artística, espaços de socialização, interação, (re) construção e (re) inserção social. Nelas, o sujeito, tem liberdade para se expressar, sendo capaz de lidar com seus medos e angústias, bem como de realizar trocas de experiências. Elas proporcionam atividades para preenchimento do tempo e para manter a mente ocupada, fazendo com que os sintomas não apareçam durante a sua realização. É uma oportunidade de oferecer uma rotina de atividades que auxilia na manutenção e eficácia do tratamento. Com isso afastamos uma perspectiva que foca na patologia e oferecemos oficinas terapêuticas que promovem um cuidado humanizado e integral. Portanto, os modelos substitutivos de saúde mental reforçam a luta antimanicomial e com isso sobrassaem a importância do trabalho nesses espaços para uma atuação de qualidade.