EDUC-AÇÃO: A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO NAS AÇÕES DE COMBATE À DOENÇA DE CHAGAS.

Apresentação

Provocada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, a doença de Chagas pode ser transmitida tanto pela via vetorial (através triatomíneo conhecido como barbeiro ou chupança), como pela via oral ou a congênita. Assim nomeada, em homenagem ao seu descobridor, Carlos Chagas , em 1909. Desde início, a endemia Chagas foi relacionada a determinantes sociais, como à precárias condições de vida, principalmente, habitação, das populações de vulnerabilidade socioeconômica. Por isso, o enfrentamento à doença se dá, em sua maioria, pelo controle vetorial nas habitações, e não,pela esfera da ações de conscientização. No Brasil, estima-se que existam mais de 4,6 milhões de pessoas atingidas pela doença e mais de 2.000 mortes ao ano. No município Guajeru-BA totalizam-se 590 domicilios com infestação. O projeto EducAÇÃO de Guajeru, através da Vigilância Epidemiologica, busca a integração da Saúde e da Educação municipal, mediante ações que trasmitam as principais características da Doença de Chagas e, principalmente, as medidas efetivas de combate aos alunos. Se utilizando para isso, a teoria do educador Paulo Freire “a Pedagogia do Oprimido”, que defende a transmissão de conhecimento para a população mais vulnerável sem quaisquer formas de discriminação. Além, da utilização de linguagem que faça parte do mundo do educando, para que este reflita e se posicione sobre, exemplificando na prática em seus lares. O que possibilita a conscientização de, praticamente, todo o município.

Objetivos

Realizar, através da integração da Saúde e da Educação municipal, ações que trasmitam à comunidade escolar as principais características da doença: sintomas, captura, formas de transmissão e, principalmente, medidas efetivas de combate à Doença de Chagas.

Metodologia

Mesmo sem um quantitativo expressivo de casos da Doença de Chagas no município, é grande o número de unidades domiciliares positivadas pela infestação do vetor transmissor “barbeiro”, são mais de 500 , com 11 localidades registrada. Antes de propor uma ação, realizamos uma investigação qualitativa sobre uma proposta de educação em saúde. E como proposição de ação, elaboramos a EducAÇÃO como intervenção de combate à Doença de Chagas, tendo o seu lançamento nas redes sociais de início, seguida pelo ciclo de visitas às escolas do Campo e as unidades escolares da sede. As visitas foram efetuadas pelos Agentes de Endemias e pela coordenadora da Vigilância Epidemiológica e tiveram como propósito transmitir à comunidade escolar as principais características da doença: sintomas, captura, formas de transmissão e, principalmente, medidas efetivas de combate. Fazendo uso de linguagem simples, com termos familiares os alunos, principalmente, os das comunidades rurais. Sem nunca , como orienta a “pedagogia do oprimido”, fazer discriminação dentre o alunato. Utilizando folders, banner, demonstrativo dos equipamentos e EPIs utilizado pelos agentes, exposição de especimes de triatomíneos e microscópio para melhor visualização dos diferentes tipos das especimes. Além, da utilização de uma maquete que reproduzia dois ambientes habitacionais- um favorável e outro não- para a infestação do transmissor. Dispondo de uma dinâmica de perguntas e respostas, para o favorecimento das trocas

Resultados

O Projeto EducAÇÃO, que teve início em março deste ano, contemplou mais de 1.000 alunos, que advêm de praticamente todas as localidades rurais e da sede do município de Guajeru. O que favoreceu que a ação nas escolas ultrapassasem a quarta parede e alcançasse milhares de famílias guajeruenses. O que é de suma importância, tendo em vista ser o município, de grande extensão territórial e de comunidades rurais distantes uma das outras. O que pode ser comprovado através do expressivo aumento da entrega insetos suspeitos de serem barbeiros por membros das comunidades locais ao Posto de Informação de Triatomíneos(PIT), relatando terem sido orientados pelos próprios filhos estudantes, após a intervenção. Suscitando a necessidade da ampliação de mais PITs. Nas escolas visitas, a ação promoveu uma comoção posterior, com relatos de educadores sobre a participação de alunos sem histórico de participação anteriores,em sua maioria, advindos de famílias de vulnerabilidade social e econômica. O projeto também se mostrou norteador para outras ações, não só voltada à Chagas, mas como para todas as endemias pactuadas, devido ao seu alcance e ao baixo orcamento. Somando-se a isto, ao aumento da potencialidade profissional e, também, pessoal dos agentes de combate às endemias, e a sua visibilidade e reconhecimento frente a sociedade.

Conclusões

Segundo Paulo Freire o homem se faz na ação, no trabalho, na palavra. Sendo esta, condição fundamental para a nossa existência “mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu”(Freire). E foi o que buscou o projeto EducAÇÃO, a propositura de uma ação efetiva de combate à Doença de Chagas, doença endemica que mata milhares de pessoas todos os anos e segui negligenciada por atingir as populações mais socioeconomicamente vulneráveis. Para isso, o projeto buscou na integração entre Saúde e Educação o caminho para a facilitação e amplificação das bases de combate e conscientização da endemia Chagas. Respeitando os saberes do educando e reconhecendo a sua identidade cultural, atendendo o Princípio da Equidade, os tornando assim, porta-vozes das medidas de enfrentamento e luta contra a doença para além dos muros das escolas. A saúde como um direito fundamental, como realmente é, sem quaisquer barreiras de acesso discriminatórias, cumprindo o Princípio da Universalidade do(SUS).