CÂNCER DE COLO DE ÚTERO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE INTERSETORIALIDADE

Apresentação

O Sistema Unico de Saúde (SUS), implantado em 1990 preve que a Política Nacional da Atenção Básica seja caracterizada como um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde. Na prevenção e controle do câncer do colo do útero, muitas ações são executadas nesse nível de atenção, desde aquelas voltadas para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, até as dirigidas para a detecção precoce do câncer. Já o Sistema Unico de Assistência Social (SUAS), implantado em 2005, prevê com o Decreto Presidencial nº 7.053/2009, que a Política Nacional para a População em Situação de Rua fique evidente a necessidade da intersetorialidade para atendimento à estas pessoas. Dessa forma, observando as condições de vulnerabilidade vivenciadas pelas mulheres em situação de rua, que além das questões psicossociais geradoras de sofrimentos físicos e emocionais, possibilitam riscos maiores para a saúde desse grupo e representam um desafio na efetivação de políticas de saúde que sejam resolutivas. Diante deste contexto, apresentamos um relato de experiência de uma mulher de 30 anos, em situação de rua, que no início de fevereiro procurou uma USF para coleta de Papanicolau, mas não tinha documentos e apresentava colo sangrante sendo neste momento desencadeada diversas ações para solucionar o problema da usuária.

Objetivos

Ampliar o cuidado e a qualidade da atenção integral à saúde da mulher em situação de rua, fazendo da atenção básica o espaço prioritário para o fortalecimento do cuidado e a criação de vínculo na rede de atenção à saúde, possibilitando sua inserção efetiva no SUS e no SUAS. Ofertar atenção especializada em saúde, em tempo e local oportunos, com qualidade e uso racional dos recursos disponíveis, nos diversos serviços de saúde que compõem o SUS que devem estar organizados e orientados pela atenção primária, e capazes de responder a necessidades de saúde da população de mulheres em situação de rua.

Metodologia

T. A. O, mulher, 30 anos, compareceu, no final de 2022, ao Centro Pop (CP) com a queixa de sangramento vaginal há 40 dias. O CP entrou em contato com a da DAB para na marcação de consulta com ginecologista. Como a usuária não tinha documentos, foi realizada uma consulta em janeiro com solicitação de exames. No início de fevereiro, a usuária compareceu numa USF para coleta de citopatológico. Ao ser questionada sobre seus documentos, a mesma relatou que se encontrava em situação de rua e que não tinha. Neste momento, a equipe entrou em contato com a DAB para conseguir a realização da leitura da lâmina. Com o trabalho intersetorial, a DAB entrou em contato com o laboratório para realização do exame em caráter de urgência. O laboratório recebeu e amostra e liberou o resultado em 13/02 com a conclusão de lesão intraepitelial de alto grau. Por intermédio da DAB, do CP e da ESF, a usuária conseguiu novos documentos, possibilitando a marcação rápida pelo setor de regulação de uma colposcopia para coleta de biópsia a qual foi marcada para o dia 28/02. Com apoio do CP, a usuária realizou o exame e seu resultado no dia 01/03 com a conclusão de carcinoma invasor do colo uterino. Diante disso, com o trabalho intersetorial e a importância do seguimento do caso, marcamos a consulta com oncologista para o dia 12/04. Após passar pela consulta, foram solicitados novos exames e a mesma foi encaminhada para o serviço de referência onde se encontra em acompanhamento até a presente data.

Resultados

Detecção precoce de caso de câncer de colo de útero Resultados de exames e início de tratamento em tempo oportunidade Cuidado integral e trabalho em rede Intersetorialidade enquanto principal item no cuidado e seguimento da população em situação de rua Atenção básica enquanto porta de entrada prioritário para a população de rua Criação de vínculo entre esta população e unidades de saúde da família Garantia de ações para o cuidado in loco, a partir da abordagem ampliada dos problemas de saúde e sociais, bem como ações compartilhadas e integradas à Unidads Básica de Saúde

Conclusões

O estigma historicamente designado à população em situação de rua dificulta o acesso aos serviços de prevenção e tratamento do câncer. Diante do grave estado de vulneração dessas pessoas, o cuidado oncológico tem se apresentado como uma demanda secundária às suas necessidades. É primordial compreender o sistema de saúde como instrumento de construção da cidadania e agregar a temática do câncer ao escopo de práticas cotidianas das equipes, haja vista a diversidade de fatores de risco a que esse grupo está exposto e a necessidade de superação das condições de vida na rua. Diante das especificidades dessa população, a estratégia de redução de danos deve ser transversal a todas as ações de saúde realizadas pelos serviços, mas neste caso específico, as equipes trabalharam o rastreamento, o tratamento e a reabilitação com foco na qualidade de vida da usuária. Nesta experiência ficou clara que a questão da intersetorialidade potencializa e se relaciona de muitos modos com os propósitos da ESF, ao adotar como princípios a integração de vários saberes e setores, proporcionando uma percepção mais abrangente da realidade e dos processos de saúde, garantido o devido cuidado integral e com qualidade à população em situação de rua.