GESTÃO E PLANEJAMENTO DO CUIDADO AS COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO MUNICÍPIO DE SIMÕES FILHO/BA

Apresentação

O planejamento como um instrumento de gestão, permite a organização da rede dos serviços públicos de saúde, possibilitando a compreensão de métodos e estratégias que objetivam a implantação de práticas que corroboram no combate as iniquidades vivenciadas pelas comunidades tradicionais, principalmente no que tange ao acesso a integralidade da assistência à saúde. Através do planejamento da oferta de ações e serviços, a rede de Atenção Primária a Saúde (APS), como ordenadora do cuidado e fundamentada nos princípios de longitudinalidade e enfoque comunitário, deve atuar na identificação e enfrentamento dos agravos e riscos à saúde existentes. No município de Simões Filho/BA, são reconhecidas três comunidades quilombolas e compreendendo que essas comunidades têm um histórico de resistência contra a ideologia racista, discriminação cultural e considerando as vulnerabilidades socioeconômicas, fundamentou-se a importância no avanço e construção de medidas e modelos de intervenções de atenção e cuidado, que foram executadas pelas equipes das Unidades de Saúde da Família (USF), bem como, a formação desses profissionais para atuarem frente às condições de vida dos quilombolas e seus impactos a saúde.

Objetivos

Descrever a experiência dos profissionais de saúde na implementação de medidas de gestão e planejamento das ações realizadas nas comunidades quilombolas do município de Simões Filho/BA, colaborando na defesa dos direitos de acesso a integralidade do cuidado aos serviços de Atenção Primária a Saúde a essas comunidades que historicamente foram excluídas, discriminadas e estigmatizadas. Relatando e evidenciando a importância da ampliação da discussão e sensibilização sobre as condições de vida e trabalho que influenciam a ocorrência dos problemas de saúde e os fatores de risco para esta população.

Metodologia

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência vivenciado por profissionais de saúde que atuam no âmbito da gestão do SUS no município de Simões Filho/BA, durante os anos de 2020 à 2021, a partir da identificação das necessidades de atenção integral a saúde às comunidades quilombolas. Para a elaboração do projeto, contou-se com o apoio e intersetorialidade entre os serviços da APS e Vigilância e Proteção à Saúde, que juntos elaboraram a estruturação do projeto e definição das ações a serem realizadas. Das ações definidas, optou-se pela formação prévia de todos os profissionais de saúde que compõe as equipes, oferta de educação em saúde, realização de atendimentos e procedimentos de enfermagem e médicos, além do fortalecimento do vínculo entre as comunidades e equipes.

Resultados

Inicialmente foram realizadas reuniões com a coordenação da APS e Vigilância e Proteção à Saúde, visando a integração das ações e considerando os determinantes para a promoção, prevenção, proteção, redução de danos e cuidado integrado, conforme preconiza a Política Nacional de Atenção Básica. As reuniões possibilitaram a criação de um plano de ação, com cronogramas e atividades executadas nos territórios. Os profissionais de saúde que atuam nas USF que possuem em seu território de abrangência comunidades quilombolas, passaram por um curso de formação, sendo discutido o: “Contexto histórico-cultural das comunidades quilombolas”, “Racismo estrutural e institucional”, “Análise da situação de saúde da população quilombola na Bahia”, “Políticas sociais e de saúde para a população negra” e o “Papel, organização, estratégias e ferramentas da APS no cuidado às comunidades quilombolas”. Em todo o processo de formação, foram realizadas atividades de dispersão que contribuíram para um novo processo de territorialização, estratificação dos riscos das condições crônicas de saúde e diagnósticos, classificação de riscos das famílias e maior atuação das equipes. A frequência das visitas domiciliares foi aumentada e os serviços de educação em saúde, imunização, testagem rápida para a diagnóstico da sífilis, HIV, hepatite B e C, testagem rápida para o diagnóstico da COVID-19 nos sintomáticos e as consultas de enfermagem e médica, puderam ser realizadas na própria comunidade.

Conclusões

A realização do planejamento e execução das ações de saúde direcionadas as comunidades quilombolas foi uma estratégia que possibilitou a reorganização dos macroprocessos nas USF, qualificação profissional com o exercício das habilidades e competências estudadas, fortalecimento do vínculo entre as equipes e comunidades, estruturação e andamento para a resolutividade das necessidades de saúde apresentadas pelos quilombolas acompanhados. Apesar de vivenciarmos uma pandemia durante o período e considerando que a Bahia tem o maior percentual de comunidades quilombolas, foi evidenciado que as ações realizadas tiveram um impacto de saúde significante no Município, garantido qualidade e acessibilidade da assistência a saúde a essa população.