VISITA DOMICILIAR À PESSOA IDOSA COM DOENÇAS CRÔNICAS EM TEMPOS DE COVID-19 EM PORTO SEGURO-BA

Apresentação

A pandemia da COVID-19 produziu enormes desafios, para além da crise de recessão econômica, revelou mais acentuadamente as vulnerabilidades e desigualdades sociais existentes em várias regiões do país, além de evidenciar as fragilidades dos serviços de saúde e a descontinuidade do cuidado aos grupos prioritários, principalmente à pessoa idosa com condições crônicas, especialmente Diabetes Mellitus (DM) e a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS). Dessa forma, devido às medidas de isolamento social que foram adotadas para reduzir a transmissibilidade viral, ao risco de desenvolverem Síndrome Respiratória Aguda Grave pela COVID-19 e com a maioria das internações/óbitos ocorrerem em idosos com comorbidades, muitos deixaram de comparecer as Unidades Básicas de Saúde (UBS), e alguns não aceitavam a visita dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), o que comprometeu a integralidade do cuidado. Nesse sentido, as equipes de Saúde da Família desempenham papel estratégico, por meio da visita domiciliar, na identificação das necessidades de saúde da pessoa com doenças crônicas relacionadas à estratificação de riscos que subsidiará a organização do cuidado, articulação e integração com a rede de atenção. A experiência foi realizada em Porto Seguro/BA, com idosos portadores HAS e DM da área de abrangência da equipe de Saúde da Família Areião II faltosos à UBS por um período superior há 06 meses em 2021.

Objetivos

OBJETIVO GERAL: Promover a continuidade do cuidado à pessoa idosa com Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus por meio da visita domiciliar durante a pandemia da COVID-19 na área de abrangência da ESF Areião II. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 1. Identificar os idosos com Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus faltosos à UBS há mais de seis meses 2. Conhecer as condições de saúde da pessoa idosa faltosa à UBS, identificando riscos e complicações e intervir com apoio da equipe multiprofissional e a rede de atenção à saúde do município de Porto Seguro-BA 3. Promover a saúde e melhorar a qualidade de vida da pessoa idosa portadora de HAS e DM reduzindo a morbimortalidade por Doenças Crônicas Não Transmissíveis.

Metodologia

A experiência aconteceu na área de abrangência da UBS Areião II, teve início a partir de fevereiro de 2021 durante reunião com os ACS para discussão do problema e proposta das atividades que seriam desenvolvidas. A identificação dos idosos foi possível pelo aplicativo dos ACS Cidade Saudável e os critérios para visitas domiciliares foram para aqueles idosos faltosos há mais de 06 meses à UBS e/ou acamados portadores de HAS e DM. As visitas foram realizadas semanalmente, em média de quatro domicílios no turno da manhã, por enfermeira, ACS e técnica de enfermagem para acolhimento, exames de glicemia capilar, verificação de pressão arterial, orientação sobre o uso correto das medicações e dieta, identificação dos fatores de risco e posterior plano de cuidado. O monitoramento para avaliar os resultados foram realizados mensalmente. O plano de cuidado contemplou a visita dos profissionais do Núcleo de Atenção à Saúde da Família (NASF AB), avaliação da situação e internação domiciliar pela Equipe Multidisciplinar de Atenção Domiciliar (EMAD), articulação e integração com os profissionais da média complexidade, parceria com a gestão municipal da atenção secundária para agilidade nas consultas com especialistas, exames de apoio diagnóstico e procedimentos. Os principais instrumentos utilizados para as visitas domiciliares foram os prontuários, glicosímetro e fitas para verificação de glicemia capilar, aparelho para verificação de pressão arterial e oxímetro de pulso.

Resultados

A partir das visitas domiciliares, verificou-se melhora nos níveis pressóricos e nos resultados da glicemia capilar em 80% dos idosos participantes, em função do uso correto das medicações, dieta adequada e das orientações da equipe para tratamento da hipertensão e diabetes. Alguns idosos precisaram de intervenções da equipe da Atenção Domiciliar devido a desidratação e desnutrição, de fisioterapia e da assistência social do NASF e de cirurgião vascular, sendo evitado a amputação do pododáctilo esquerdo de uma idosa de 85 anos, devido a neuropatia diabética, apresentando úlcera com necrose e perda da sensibilidade. Dos idosos que estavam sem vacina contra COVID-19 apenas 01 recusou, os acamados foram vacinados no domicílio. Os participantes foram 95 hipertensos e 26 diabéticos idosos faltosos à UBS (60%), há mais de 06 meses sendo destes 05 acamados, totalizando 121. Foram realizadas em média 479 visitas domiciliares no período de 2021 para o público alvo acima mencionado. Destes, 90% dos idosos portadores de DM estavam com a glicemia capilar alterada, dieta inadequada, e em uso irregular das medicações. Em relação aos hipertensos 35% estavam com os níveis pressóricos elevados, dieta inadequada e uso irregular da medicação. Para além dos riscos e complicações identificadas acima, houve queixas de algia no corpo, relato de quedas e observou-se vulnerabilidades sociais.

Conclusões

As ações da equipe de Saúde da Família/NASF em articulação e integração com a rede de atenção à saúde e o vínculo com os idosos e familiares, foram fundamentais para o sucesso da experiência, conseguiram atuar sobre os fatores de risco/complicações e melhorar o controle da HAS e DM e consequentemente a qualidade de vida dos idosos. Nesse sentido a visita domiciliar é um instrumento potente na identificação de fatores de risco e, sobretudo, prevenindo complicações decorrentes da descontinuidade do cuidado durante a pandemia da COVID-19. É uma experiência que apresenta sustentabilidade, articulação e integração da equipe da ESF com a rede de atenção à saúde, com a participação dos usuários e dos familiares e pode ser adaptada a outros contextos, porém, essa estratégia impõe aos profissionais de saúde um olhar e um agir ampliados para garantir a integralidade do cuidado. Recomenda-se que as equipes da Saúde da Família instituam em seu planejamento ações de atenção ao idoso portador de HAS e DM e desta forma melhorar a saúde e qualidade de vida desse grupo prioritário.