Fruto da inquietude de gestores e trabalhadores frente ao perene processo de improvisação e de ações imediatistas no cotidiano da APS, o movimento PlanejAPS vem caracterizando-se enquanto um mecanismo de consolidação da APS enquanto ordenadora da rede e coordenadora do cuidado em Itabuna/BA. Iniciado em junho de 2021, o projeto ganhou força enquanto produto final do Curso de Planejamento em Saúde (ISC/UFBA, em cooperação técnica com a SESAB/2021) ao seguir todos os passos desenvolvidos durante a referida formação, e consolidou-se a partir de uma integração intersetorial demarcada por cirandas, debates, afetos e atos em prol da tessitura de uma Atenção Primária com todos e para todos. Composto por trabalhadores, gestores, usuários, IES e representantes de grupos específicos (população negra, cigana, LGBTQIa+, povos de terreiros e população em situação de rua) o movimento, com dois macros momentos disparadores (Gestão do Tempo e das Emoções e Seminário PlanejAPS) vêm sendo desenhado e revisitado a partir de grupos de trabalhos específicos. Em suma, construção, diálogo, cooperação, sentido e metas são palavras geradoras que muito bem resumem o PlanejAPS. Em defesa de uma Atenção Primária que ao cumprir o atributo primeiro contato tenha competência cultural para ser lugar de todos, o PlanejAPS prima por um fazer que responda às necessidades de saúde dos sujeitos e coletivos. Afinal, parafraseando, apenas para quem não sabe aonde quer chegar é que qualquer caminho serve.
GERAL: Legitimar a APS enquanto ordenadora da rede e coordenadora do cuidado no município de Itabuna/BA, a partir de um projeto que prime pelo cumprimento das funções e atributos da Atenção Primária em nível local. ESPECÍFICOS: Estimular o perene diálogo com a gestão municipal, a fim de garantir a priorização e valorização da APS na agenda do governo fortalecer, junto à equipe da APS de Itabuna/BA, a compreensão do planejamento enquanto processo dinâmico e contínuo que deve sempre “preceder e presidir as ações”, tal qual proposto pelo professor Calos Matus (1994) estimular a compreensão do grupo quanto à missão, visão de futuro, estrutura, objetivos e metas da APS de Itabuna estimular a dialogicidade com e entre gestores e trabalhadores da APS e outros atores da rede SUS e extra SUS fortalecer a integração ensino-serviço e elaborar capítulo de APS do Plano Municipal de Saúde (PMS) 2022-2025.
Em junho de 2021, em parceria com a UFSB, aconteceu a oficina “Planejamento Estratégico Situacional” direcionada aos gestores e trabalhadores da APS. Em julho realizou-se uma pesquisa via questionário virtual com todas as 50 eSF, buscando fazer um diagnóstico e obter proposições de todo o coletivo. Em agosto, tendo como elementos o relatório da conferência municipal de saúde 2019 o resultado da pesquisa e alguns indicadores de saúde, elaborou-se as ações da APS para o PPA 2022-2025. Em agosto de 2021 teve inicio o curso de Planejamento ISC/SESAB, onde o município foi representado por apoiadora da APS. Já em outubro do mesmo ano a APS esteve junto à coordenação e mediação da conferência municipal de saúde. Em novembro, realizou-se a oficina “Por mim, por você, por nós e pelo SUS: Gestão do tempo e das Emoções” mediada por uma professora da USP e o Seminário PlanejAPS, em parceria com a UFSB. O seminário aconteceu no formato presencial e contou com 11 grupos de trabalhos focados na elaboração do capítulo APS para o PMS 2022-2025. No mês de dezembro a equipe iniciou a consolidação do PMS 2022-2025 e a elaboração da PAS 2022, ações interrompidas pela enchente que atingiu a cidade. Em janeiro/2022 finalizou-se o RAG 2021 e o PMS/PAS. Dando seguimento, a PAS 2022 foi dividida em Programações Quadrimestrais (PQS) e estas em Calendário Mensal de Saúde (CMS) e a partir desses instrumentos segue-se monitorando as ações.
Dentre os inúmeros resultados destacam-se: Maior aproximação da equipe da APS para com o planejamento Ampliação da compreensão acerca da situação de saúde local Construção coletiva da Missão, Valores e Visão de Futuro da APS Ampliação da integração ensino – serviço Ampliação da articulação intersetorial Ampliação de processos de trabalho com inclusão de novos grupos direcionados às Politicas Transvesais (população negra, cigana, povos de terreiros, LGBTQIa+ e população em situação de rua), PICS e Educação Popular em Saúde Elaboração do capítulo APS para o PMS 2022-2025 e da PAS 2022 já em padrão da tabela DIGISUS Apresentação do processo de planejamento APS para demais níveis da rede municipal de saúde Apoio direto a outros departamento da rede municipal de saúde Elaboração de planilha para Programações Quadrimestrais e planilha Calendário Mensal de Saúde Monitoramento mensal de ações com definição de padrão verde – 100% cumprida amarela – parcialmente cumprida vermelha – não cumprida Revisitação periódica das ações planejadas para novos dimensionamentos, caso necessários Apresentação na Mostra Virtual do Curso Planejamento em Saúde (ISC/SESAB) Maior clareza nos processos de gestão e do cuidado.
Não é simples trabalhar na perspectiva do planejamento enquanto processo dinâmico e contínuo que deve sempre “preceder e presidir as ações” (MATUS,1994). Não é simples, mas é possível. Sendo assim, cabe aos sujeitos sociais, resistir e insistir na elaboração de ações, projetos e propostas que façam sentido para os sujeitos e coletivos, porque partem e atendem às suas necessidades e demandas. Em suma, sendo culturalmente comum trabalhar no setor saúde (especialmente na APS) sob o “controle” e a “pressão” de demandas imediatistas que exigem constantes improvisações, urge uma contracultura que estabeleça a relevância de programações, previsões e provisões que favoreçam ações em saúde verdadeiramente efetivas e humanizadas por que partem da escuta e da gestão compartilhada. Igualmente, urge que as programações em saúde, elaboradas a partir das reais necessidades dos sujeitos e dos territórios e embasadas nas políticas de saúde, componham as agendas de governo, para que se tenha o apoio necessário para transformar planos em ações. O SUS que queremos é o SUS que fazemos, por isso importa sejamos todos cirandeiros e debatedores, a fim de que nossos afetos virem atos na tessitura de uma APS (de um SUS) com todos e para todos.