Itabuna foi um dos municípios mais afetados pelas fortes chuvas que atingiram o estado da Bahia ao final de 2021. Em 26/12/2021, os moradores amanheceram com muitas ruas, casas e estabelecimentos alagados e, por conseguinte, mais de 600 famílias ficaram desabrigadas ou desalojadas e 2 óbitos foram registrados. A chuva causou bloqueios e danos que prejudicaram a circulação nas vias públicas e afetou severamente o comércio. Neste contexto, os serviços de saúde também foram profusamente prejudicados, pois além do comprometimento das unidades localizadas nas áreas afetadas, o almoxarifado central da saúde, registrou a perda de 95% dos equipamentos, materiais e insumos. Outrossim, para além das perdas materiais, o sofrimento mental e emocional (previamente verificado e associado a fatores como a pandemia COVID 19 e outros) foi amplamente exacerbado, o que exigiu decisões imediatas. Neste cenário, a chegada de equipe do Médicos Sem Fronteiras (MSF) e a integração desta com a Secretaria de Saúde através dos setores de EPS/ APS e SM, foi o start para a ampliação da dialogicidade com as USF e, a partir desta, para a escuta das condições e necessidades em saúde mental do território e dos trabalhadores e para a ampliação da integração ensino-serviço. Fruto da interlocução intersetorial estabelecida, cita-se a oficina “Formação em Estratégias de Fortalecimento das Ações de Saúde Mental em Contexto de Emergência e Desastres”, realizada no período de 31/01 a 15/03 de 2022.
GERAL: Relatar a experiência vivenciada pela Secretaria Municipal de Saúde de Itabuna/BA, através das equipes de EPS/APS e SM, a partir do encontro com equipe Médicos Sem Fronteiras. ESPECÍFICOS: Demonstrar como a intersetorialidade é um forte elemento em favor da efetividade, resolutividade e humanização nos serviços de saúde Sensibilizar gestores e trabalhadores aceca da relevância da dialogicidade enquanto processo necessário à identificação do sofrimento mental e emocional vivenciado por usuários e trabalhadores da saúde Demonstrar a relevância da compreensão e do fomento da educação permanente em saúde enquanto dispositivo de gestão e do cuidado Fomentar a proposição de processos similares envolvendo outros pares e outros sujeitos sociais em nível municipal, estadual e/ou federal.
A convite da SESAB, a equipe MSF assumiu a missão de apoiar o município de Itabuna, através de resposta humanitária às vítimas das enchentes. Dessarte, em parceria com a equipe da VigiDesastres, o grupo verificou as condições estruturais dos abrigos e constatou a redução significativa de famílias que ainda se mantinham nos referidos espaços. Assim, e considerando o diálogo com atores locais, a equipe identificou o componente de Saúde Mental como uma oportunidade de apoio. Isto posto, após encontros presenciais com apoiadores institucionais da EPS/APS e da SM e produção colaborativa de manual orientador, optou-se por realizar oficinas virtuais, tendo como público alvo enfermeiras(os), médicas(os), residentes e ACS das eSF psicólogas(os) SM gestores e representantes das IES. Realizada no modelo híbrido e intitulada “Formação em Estratégias de Formalecimento das Ações de Saúde Mental em Contexto de Emergência e Desastres”, a atividade foi composta por 20 turmas: 18 de trabalhadores da APS e IES 01 de gestores e 01de psicólogas (os). Realizado no período de 31/01 a 15/03 de 2022, o processo formativo contou com cinco momentos: grupos focais (4 turmas virtuais com 2h cada) concentração (2h cada turma virtual) dispersão (4h – campo) supervisão (2h cada turma virtual) avaliação (2 encontros virtuais de 2h cada), contabilizando 172h de atividades. Em paralelo às oficinas, gestores EPS/ APS, SM e MSF realizaram momentos de planejamento e avaliação do processo.
Quantitativos: no momento um, estiveram presentes 100% dos representantes das quatro USF selecionadas, somando 20 pessoas o momento dois, tinha um público potencial de 491 participantes e contou com a presença de 454 participantes, o equivalente a 92% do esperado já no momento quatro, embora dos 479 esperados tenham comparecido 297, considera-se estes 62% um índice bastante relevante, tendo em conta o momento epidemiológico (alta nos número COVID 19 e H3N2) no momento cinco compareceram 90 pessoas, o equivalente a 180% do total de 50 pessoas esperadas. Ademais, conquanto não seja possível avaliar quantitativamente o momento três, os relatos da atividade de campo denotam resultados positivos. Qualitativos: avalia-se deveras positiva a experiência vivenciada pelas equipes da APS e SM do município de Itabuna/BA, mediante o encontro com equipe MSF. A partir de informações obtidas através das atividades realizadas, o município passou a ter maior clareza acerca do sentimento de esgotamento mental, físico e emocional comum à maioria dos trabalhadores das dificuldades oriundas da ausência de uma linha de cuidado em saúde mental estabelecida e com garantia de fluxo e contrafluxo de como a mudança territorial comprometeu o vínculo usuário – equipe e, por conseguinte, como isso pode produzir agravamentos de demandas anteriores e/ou surgimento de demandas de cuidado que permaneçam reprimidas pela falta de contato com os serviços.
A intersetorialidade é um forte elemento em favor da efetividade, resolutividade e humanização nos serviços de saúde e esta é uma assertiva claramente evidenciada a partir do encontro MSF e Secretaria Municipal de Saúde de Itabuna. Tal-qualmente, a vivência demostrou o quanto a dialogicidade (e também a amorosidade a problematização a experiência prévia e afins) é imprescindível para a identificação de processos e caminhos que façam sentido para os sujeitos e territórios. Do mesmo modo, através de um movimento transdisciplinar e transcultural, demarcado pelo saber oriundo das experiências acumuladas pela equipe MSF somadas àquelas que emergem da realidade local, foi possível compreender o quanto o sofrimento mental e emocional, tantas vezes silencioso, pode ser o nó górdio dos processos de trabalho no SUS. Destarte, a experiência apontou novos caminhos e possibilidades. Espera-se que esta experiência possa ser conhecida e replicada por outros pares e outros sujeitos sociais em nível municipal, estadual e ou federal. Afinal, parafraseando o mestre Freire (2001), é urgente que estejamos aptos a unir a prática com a teoria, a fim de que tenhamos uma práxis que, ao tempo que seja ação criadora, seja capaz de modificar a realidade.