A pandemia do Coronavírus, declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março de 2020, determinou a necessidade emergencial de transformações nos processos de gestão em saúde em todo o mundo. (UNASUS, 2020). Buscando refrear o avanço do vírus, tornou-se indispensável a atuação da vigilância em saúde, proporcionando desafios sem precedentes no âmbito da Saúde Pública. A Atenção Primária em Saúde (APS) é considerada a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS). Através da atuação das equipes da APS durante a pandemia, estabeleceu-se a identificação precoce dos casos de maior gravidade além de viabilizar o encaminhamento aos serviços especializados em tempo oportuno, permitindo o alinhamento das ações e a análise da Vigilância Epidemiológica (VIEP) (SES-MA, UFMA, 2020). Com a pandemia, foi necessário a intervenção com estratégias que estivessem ligadas as ações que já eram desenvolvidas pelas equipes da APS, o que contribuiu para a transformação dos modelos relacionados aos cuidados em saúde. A utilização de ferramentas eletrônicas permite a construção de resultados efetivos e com qualidade ao processo de assistência (FERREIRA et al. 2021). A teleconsulta e o telemonitoramento permitem a assistência à distância, minimizando riscos de transmissão da COVID-19. São práticas relevantes adotadas na pandemia, pois contribuem para o acompanhamento, as orientações sobre os protocolos vigentes, além de reduzir a circulação de pessoas nos serviços de saúde.
O objetivo geral deste projeto foi demonstrar a contribuição das estratégias de telemonitoramento e teleatendimento utilizadas durante a pandemia da COVID-19 para o acompanhamento dos usuários dos serviços da Atenção Básica do município de Jaguaripe-Ba. Dentre os objetivos específicos, ampliar o acompanhamento da comunidade que apresentasse o quadro de síndrome gripal, possibilitar a realização precoce das intervenções evitando o agravamento e óbitos dos casos, garantir a segurança dos profissionais da atenção básica bem como dos usuários, diminuir a transmissibilidade do vírus e garantir a manutenção do acompanhamento dos pacientes dos grupos de risco.
Trata-se de um relato de experiência das estratégias realizadas durante a pandemia do Coronavírus no município de Jaguaripe- BA, com população estimada pelo IBGE em 18. 788 habitantes. Consta nele, a descrição das ações de telemonitoramento e teleatendimento utilizadas durante o processo de vigilância em saúde no município durante o enfrentamento a COVID-19. O projeto contou com a atuação da Secretaria Municipal da Saúde, das Unidades de Saúde e a estrutura de teleatendimento e telemonitoramento realizados através dos profissionais em trabalho remoto. Esses profissionais seguiam um roteiro de atendimento e realizavam o registro das informações em uma ficha de monitoramento de pessoas com síndrome gripal. O monitoramento era realizado por ligação telefônica ou via WhatsApp, a cada 24h para grupos acima de 60 anos e portadores de comorbidades, e a cada 48h aos demais usuários, o propósito da estratégia estava fundamentado em orientar e acompanhar a evolução do quadro clínico dos pacientes. Após as ligações telefônicas, as fichas dos usuários eram avaliadas em conjunto com enfermeiro e/ou médico para que fosse definida a conduta adotada em cada caso. A estratégia de teleatendimento utilizava a plataforma appamigo.com.br e o fluxo do atendimento ocorria através de consulta agendada pelas equipes da APS possibilitando a continuidade do cuidado aos usuários dos serviços de saúde.
De maio de 2020 a dezembro de 2021 foram registrados no município de Jaguaripe, pelo monitoramento, 3.350 casos suspeitos e/ou confirmados, 1.779 casos confirmados, 16 óbitos e 46 internamentos. Foi possível observar que a estratégia de monitoramento promoveu a integração efetiva da equipe de saúde com os usuários, sendo eficaz para manter a atenção, o processo de orientação e educação em saúde à distância, minimizando as dificuldades estabelecidas pela pandemia. A maior parte dos pacientes monitorados demonstravam um nível de satisfação com a estratégia e aproveitavam o momento para esclarecer dúvidas sobre a doença. Além disso, expressavam conforto e alívio por existir alguém de referência para a prestação da assistência e continuidade do cuidado. Em 2020, dados apresentados pela plataforma InLoco, demonstrou que Jaguaripe tinha registrado um dos maiores índices de isolamento do estado. Durante os meses de abril a dezembro de 2021 foram realizadas 815 teleconsultas. Destas, 43% eram do sexo masculino e 57% eram do sexo feminino. A telemedicina se apresentou como um recurso que colaborou para o alcance de resultados positivos e para a ampliação da qualidade do processo assistencial. As ações desenvolvidas no teleatendimento permitiram identificar os riscos existentes durante o atendimento, o que tornou possível uma intervenção de maneira precoce e o encaminhamento em tempo oportuno considerando a evolução do quadro clínico de cada indivíduo.
A implantação dessas estratégias apresentou impacto direto sobre as ações já desenvolvidas pelas equipes da APS, gerando mudanças nos modelos referentes aos cuidados e a atenção à saúde. Analisando o aspecto do surgimento da pandemia e suas repercussões, essas estratégias se mostram efetivas para garantir o acompanhamento dos pacientes, principalmente àqueles dos grupos de risco. O teleatendimento facilitou o gerenciamento do cuidado em portadores de doenças crônicas e com demandas de saúde que necessitam de atuação efetiva e regular. O recurso se mostrou de extrema relevância, visto que ampliou a consulta médica, mantendo ao alcance do usuário as orientações, o diagnóstico e a atuação precoce na COVID-19, fatores imprescindíveis para contribuir na redução da morbidade, mortalidade e em número de internações, especialmente quando ocorria o aumento da curva de transmissão da doença. Essas ferramentas estratégicas surgiram como alternativas viáveis e resolutivas para monitorar as necessidades dos usuários. Destarte, precisam ser compartilhadas afim de demonstrar que as tecnologias oferecem um atendimento de qualidade para colaborar com as práticas já desenvolvidas pelas equipes de APS.