Localizado no Sul da Bahia, o município de Itabuna possui uma população de 186.708hab. (IBGE, 2022) e cobertura de APS de 100%, distribuída em 49 ESF/ 33 USF/ 4 distritos áreas. Enfrentando desafios inerentes a APS nos municípios de grande porte, a equipe local, inspirada na Escola Peripatética, mais especificamente no proposto pelo professor Lancetti (2016) a partir da Clínica Peripatética, instituiu o programa APS em Movimento, propondo um novo modelo de gestão e de cuidado, tendo como público-alvo gestores, trabalhadores e usuários do SUS (e suas correlações) a partir da assertiva de que, parafraseando Milton, a saúde precisa estar (a)onde o povo está. Encontrou-se inspiração na Escola/Clínica Peripatética, por compreender que “a itinerância produz uma ética de cuidado quando deixa de ser apenas um recurso pragmático de acesso e, ao usar a potência do movimento, consegue transformar o território num laboratório de experimentação política e de invenção de novos modos de existência” (LEMKE, 2011) e, por que não, de gestão. Assim, em um movimento coletivo e perene, com vistas a estimular que as ações propostas versus demandas dos sujeitos estejam em constante diálogo, conforme o método peripatético de exploração de espaços e de instigação da escuta, APS em Movimento caracteriza-se enquanto um programa instituído no corrente ano que, embora inovador, remete às origens e aos princípios do SUS ao estimular a autonomia dos sujeitos e a democracia enquanto bandeira da saúde.
GERAL: Apresentar o programa APS em Movimento, inspirado na Escola/Clínica Peripatética, enquanto uma proposta inovadora de gestão, instituída no município de Itabuna/Bahia. ESPECÍFICOS: 1.Demonstrar como o programa APS em Movimento, inspirado na Escola/Clínica Peripatética, vem estimulando o trabalho em equipe e, consequentemente, ampliando a qualidade da gestão e dos serviços de saúde no município de Itabuna/ Bahia 2.Divulgar a “gestão peripatética” enquanto um modelo metodológico nascido na APS do município de Itabuna/Bahia, inspirado na Escola/Clínica Peripatética 3.Instigar gestores e trabalhadores do SUS à compreensão de que, também na perspectiva da gestão, a saúde precisa estar (a)onde o povo está.
Trata-se de um programa de gestão, composto por 1 coordenação (responsável por estimular a sinergia entre os núcleos conduzir o planejamento, a avaliação e o monitoramento das ações e fomentar o diálogo com a RAS) e por 5 núcleos: 1.NUGTES – equipe multidisciplinar, com a missão de promover e acompanhar as demandas da gestão do trabalho e da educação na saúde ofertar apoio matricial aos demais núcleos acompanhar as ações relacionadas às políticas de equidade monitorar indicadores e metas e dar apoio necessário para registros de produção e ASIS 2. Núcleo Tático – estruturado como: T1 – composto por 4 apoiadoras e responsável pela gestão do serviço e T2 – composto por 8 apoiadores e responsável pela gestão do cuidado. Juntos, T1 e T2, constituem 4 trios de apoio aos 4 distritos áreas 3. Núcleo Administrativo – responsável pelas questões burocráticas e pelas respostas imediatas às demandas externas 4. Núcleo Operacional – composto por: O1 – responsável pela gestão do serviço (gerentes USF) e O2 – responsável pela gestão do cuidado (trabalhadores USF) e 5. Núcleo de Participação Social -composto por 1 apoiadora e TACS/ACS, responsável por escutar diretamente as comunidades, a fim de conduzir os problemas e propostas à coordenação e ao NUGTES e destes aos demais núcleos, para fins de avaliação e intervenção. Assim, em um modelo de gestão peripatética, a APS em Movimento, caminha e ciranda com todos os atores enquanto protagonistas da gestão e do cuidado.
O programa APS em Movimento surgiu enquanto resposta para desafios que, recorrentes, dificultavam o processo de trabalho na APS. A exemplo: ausência de um projeto macro e norteador para a APS desmotivação de atores constantes queixas de usuários processo de trabalho centrado em indicadores Previne Brasil outros. Nesse sentido, é possível destacar dentre os seus resultados: o programa APS em Movimento, com uma estrutura metodológica clara, ao tempo em que permite que todos contribuam para um projeto único, favorece para que cada um (re)conheça a própria função para a engrenagem do todo, o que, consequentemente, vem despertando a motivação entre as partes. Por sua vez, a inspiração na Escola/Clínica Peripatética, ao levar o movimento da gestão para os territórios tem permitido que, para além de queixas, os sujeitos apresentem as suas propostas e que a escuta seja a maior ferramenta para o planejamento da APS. Por conseguinte, tem-se observado (a partir de monitoramento próprio) o crescimento dos resultados das metas do Previne Brasil, exatamente quando o foco deixa de ser os seus indicadores e passa a centrar-se no cumprimento dos atributos e diretrizes da APS (iniciativa a ser mantida para fins da Portaria nº 3.493/2024). Ademais, destaca-se o processo gradual de retomada do lugar da APS enquanto ordenadora da rede e coordenadora do cuidado e o sentimento coletivo de satisfação pela construção coletiva de um novo modelo de gestão, qual seja a gestão peripatética.
Para além de ousado e inovador, o programa APS em Movimento tem se apresentado como um mecanismo capaz de fortalecer a efetivação da Saúde Coletiva, pois, ao estimular o diálogo entre os diversos sujeitos da gestão, dos serviços e das comunidades, ao tempo em que estimula a competência cultural na APS, aproxima tais atores das demandas sociais de saúde dos territórios. Nesse sentido, o programa APS em Movimento tem, ainda, o objetivo de fomentar o compromisso ético e político de gestores – trabalhadores – usuários da APS de Itabuna/Bahia. Enfim, já não cabe fazer gestão atrás dos muros das secretarias, afinal, a saúde precisa estar (a)onde o povo está. Em vista disso, o modelo de gestão peripatética, proposto pelo programa, é um projeto que nasce no campo da gestão – serviço SUS, mas que vem, em parceria com grupo de pesquisa de uma universidade estadual, buscando referenciais e embasamentos teóricos para consolidar-se enquanto modelo de gestão. Espera-se que tal experiência possa ser replicada em outros municípios e que seja inspiração para o encontro de novos caminhos no e pelo SUS. Em suma, não sabemos ao certo aonde chegaremos, mas temos a certeza de que, como nos ensinou o Mestre Arouca (1986) “aqui, é permitido sonhar”.