Os centros de partos normais são instituídos Rede Cegonha por meio da portaria consolidada Nº 3, de 28 de setembro de 2017, aguardando nova atualização da normativa federal conforme pactuação em reunião de comissão intergestoras tripartite em novembro de 2023. Seguindo tendencia nacional, os indicadores de mortalidade neonatal e materna em Eunápolis atingiram altos índices nos últimos anos, no ano de 2023 segundo SUVISA, ocorreram 13 mortes por mil nascidos vivos em menores de 27 dias e 61 de mulheres em cem mil nascidos vivos. Frente a essa realidade, em 2022 dá-se início ao planejamento de implantação do centro de parto normal (CPN) Lulu Parteira, vinculado ao Hospital Regional de Eunápolis (HRE), passando a funcionar a partir de 31 de janeiro de 2024, enquanto estratégia de mudar o modelo de assistência ao parto e nascimento e reduzir a morte de mães e crianças no município. Além disso, promover ambiente acolhedor e seguro que respeita o protagonismo da mulher e suas escolhas no parto, seguindo as boas práticas do cuidado a mãe e bebê, não obstante a isso, resgatando o parto como um evento fisiológico e natural.
Descrever a experiência de implantação do Centro de Parto Normal Lulu Parteira enquanto estratégia para promover às boas práticas de atenção ao parto e nascimento e contribuir para a redução da mortalidade materna e infantil no município.
Trata-se de pesquisa descritiva com informações obtidas do livro de parto da instituição, dados de nascimento por partos normal e cesariana, segundo sistema de informação hospitalar (SIH/SUS). Inclui-se o relato de puérperas assistidas que responderam à pesquisa de satisfação em formato eletrônico. Tem como universo de análise todos os partos realizados no serviço até o mês de abril de 2024. Traz também o registro fotográfico das mudanças ocorridas na ambiência do cenário de parto com a implantação do centro de parto normal. Como indicadores de boas práticas de atenção ao parto foram considerados a presença de acompanhantes de escolha da mulher, número de consultas de pré-natais, livre escolha da mulher na posição de parir, aleitamento materno em sala de parto e contato pele a pele na primeira hora de vida. A pesquisa de satisfação foi realizada com a totalidade das mulheres que pariram na instituição durante o tempo de funcionamento e com retorno de 85% dos questionários. Os dados coletados são uma amostra exitosa de um serviço recentemente implantado, com sucesso em suas ações voltadas às usuárias gestantes do SUS.
Foram realizadas 8 reuniões com a atenção primaria para construção do fluxo de vinculação e articular a relação entre as unidades básicas e o centro de parto. Na vinculação para o parto são realizadas consultas de perfil com enfermeiras obstétricas para validar os critérios de elegibilidade para o centro de parto, até o mês de abril foram realizadas 125 consultas. Atualmente existem 50 gestantes vinculadas e aguardando o trabalho de parto para parir no CPN. Até o momento foram realizados 25 partos sem distócias. São ofertados cursos de educação perinatal para as mulheres e seus acompanhantes, aulas de pilates duas vezes por semana com média de 80% de assiduidade. São realizadas consultas de retorno para as puérperas para fortalecimento do aleitamento materno e acesso à laserterapia se necessário. As ações desenvolvidas pelo CPN utilizam os critérios de evitabilidade de óbitos infantis e materno de segundo manual de vigilância e de prevenção do óbito infantil e fetal pois a assistência é baseada em boas práticas, evidências cientificas e a Política Nacional de Humanização. De acordo com a pesquisa de satisfação realizada com puérperas e acompanhantes, 95% referiram sentir-se bem informada sobre o processo de parto, 86% acharam úteis as aulas de preparação para o parto,100% sentiram-se apoiada, respeitada e envolvida na tomada de decisões durante todo o processo do parto, 100% sentiu-se satisfeita ou muito satisfeita da experiência de parto no CPN.
O funcionamento do CPN-Lulu Parteira tem promovido a articulação da rede de atenção à saúde do município, fortalecendo o cuidado longitudinal as gestantes e crianças, e vem implementando no município de Eunápolis, o modelo de atenção ao parto e nascimento proposto pela Rede Cegonha. Tem-se como perspectivas pretende-se avançar para ações relacionadas a saúde sexual e reprodutivas como a colocação de DIU, além de funcionar com 100% dos leitos existentes, considerando que atualmente funciona com 3 dos 5 leitos. O serviço também pretende iniciar o processo de habilitação na portaria federal que vai garantir custeio permanente. Entre os desafios estão a mudança na cultura de parto da rede de saúde do município, a ampliação da abrangência do CPN para atender a região de saúde, sendo incluído no desenho do planejamento regional integrado da macrorregião. Para o fortalecimento desta experiência é fundamental a brevidade na publicação da portaria federal da nova rede cegonha e a concretude de cofinanciamento estadual para a assistência obstétrica, de modo a potencializar as ações na rede de saúde e junto às mulheres e famílias do município e região promovendo transformações mais significativas para valorização da vida.