OFICINA DE MÚSICA COMO INSTRUMENTO DE REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL NUMA RESIDÊNCIA TERAPÊUTICA TIPO II.

Apresentação

A partir da Reforma Psiquiátrica, o cuidado às pessoas com sofrimento psíquico vem passando por sérias mudanças, deslocando-se a centralidade dada à loucura para um sujeito real, de direitos, aspirações e anseios, integrante de uma família e inserido em uma certa comunidade (AZEVEDO MIRANDA, 2011). Nos últimos anos, com o objetivo de substituir o modelo hospitalocêntrico anterior, considerado segregador e iatrogênico, notou-se uma grande preocupação com a abertura de leitos psiquiátricos em hospitais gerais, com a integração das ações em saúde mental nos espaços da Atenção Primária em Saúde (APS), também, com abertura de diversos centros de convivência. E para aquelas pessoas que viveram longos anos internadas em hospitais psiquiátricos, houve a implantação das Residências Terapêuticas (RT), que são casas instaladas em bairros urbanos para facilitar a reinserção na comunidade (MOREIRA CASTRO-SILVA, 2011). Nas RT’s são desenvolvidas diversas atividades em grupo, a exemplo da oficina de música desenvolvida na RT II do município de Pé de Serra – Bahia. A música, segundo Zanello e Sousa (2009), oferece uma nova via de expressão de conflitos internos e emoções, trabalha a resiliência do indivíduo, bem como o resgate de memórias vivenciadas. Para os moradores da RT, a música funciona como ferramenta de humanização, pois através podem opinar e construir discussões acerca de diversas temáticas.

Objetivos

Relatar como a oficina de música constituiu-se como um mecanismo reabilitador para moradores de uma residência terapêutica do município de Pé de Serra – Bahia.

Metodologia

Trata-se de um relato de experiência, desenvolvido pela profissional de música numa Residência Terapêutica tipo II no município de Pé de Serra-Bahia. São realizadas oficinas terapêuticas semanalmente com os moradores egressos do Hospital Especializado Lopes Rodrigues de Feira de Santana-Bahia. Esses indivíduos, são do sexo masculino, entre 49 a 71 anos de idade. Participam da oficina terapêutica 10 moradores. As participações são através de dinâmicas, confecções de instrumentos por parte da reciclagem, escolha das letras das músicas, sempre dando liberdade e preferência de escolha das canções e ritmos, para que cada morador desenvolva estímulos musicais conforme sua condição física e psíquica.

Resultados

Observou-se aspectos relevantes acerca do uso da música no ambiente da RT, ou seja, participar da oficina de música já era um sinal de melhora dos moradores. Nesse sentido, alguns que aparentemente estavam em estado catatônico começavam a balançar o corpo, a interagir minimamente. Pode-se sugerir que a música tem um papel de trabalhar a resiliência desses indivíduos. Algumas situações durante a atividade em que, emoções fortes são impulsionadas por conta da recordação de situações passadas, o profissional interfere na atividade para evitar mal-estar individual ou coletivo. A atividade é concluída quando se atinge um ápice de clima harmonioso, para que quando ocorra novamente a oficina, haja a sensação de que a atividade é agradável. Os fatores observados ao efeito promotor de saúde na oficina terapêutica foram, o favorecimento da sintonia na relação terapeuta-paciente e o valor do significado da letra da música para cada morador. Notou-se a importância que a letra exerce na escolha da música como forma de expressão dos sentimentos relembrado por parte de cada indivíduo.

Conclusões

A partir da experiência vivenciada, pode-se assegurar que o uso da música como ferramenta no processo de reabilitação psicossocial é positivo, permitindo ao sujeito expressar suas emoções e demandas sem julgamentos ou imposições, sendo o principal ator coparticipativo deste processo terapêutico. A música em todos os espaços atua como um canal expressivo e potente, capaz de propiciar a expressão dos conflitos emocionais proporcionando conforto afetivo. Sendo assim, constitui uma via de enfrentamento a doença mental, resgatando as memórias vivenciadas, tendo a oficina terapêutica de música como espaço potencializador valorizando o criativo, imaginativo e expressivo de cada morador da RT.