Depois de 12 anos, foi confirmado o primeiro óbito por raiva humana na Bahia. E esse episódio motivou uma associada ao Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia (COSEMS/BA), a enfermeira sanitarista e Secretária de Saúde do município de Santa Cruz Cabrália, Márcia Quaresma, a escrever um artigo sobre a importância de alguns cuidados que podem interferir no desfecho letal da doença.
Artigo
Por Marcia Quaresma – Enfermeira Sanitarista e Secretária de Saude de Santa Cruz Cabralia-BA
Em 26 anos que atuo no SUS, ainda não vi nenhum caso de raiva humana alcançar a cura. Apesar de ser uma doença letal, o óbito pode ser evitado se o tratamento profilático, após exposição da pessoa com acidente anti-rábico humano, for administrado em tempo hábil, pois uma vez que o paciente tenha desenvolvido os sintomas da raiva, já não há mais tratamento eficaz.
Diante dessa situação, algumas falhas de orientação à população e nos procedimentos realizados em nossas unidades de saúde e hospitais precisam ser observadas e reforçadas, pois a conduta correta é decisiva para um desfecho favorável em favor do paciente contaminado.
A população e os profissionais de saúde precisam estar informados e alertas para o fato de que a primeira atitude ser tomada, após o paciente ser mordido por qualquer possível animal transmissor do vírus da raiva, é lavar bem a ferida com água e sabão, este simples ato diminui sobremaneira os riscos de contaminação pelo vírus da raiva, presente na saliva do animal contaminado. Ao chegar na unidade de saúde, a pessoa exposta ao acidente deve ser avaliada sobre a necessidade de iniciar o tratamento profilático.
Uma falha muito comum, que já observei em salas de vacina, é fato do paciente ser liberar, não realizando o tratamento profilático adequado, após o funcionário que prestou o atendimento obter a informação de que o animal agressor é vacinado. Hoje em dia, independentemente da situação vacinal do animal agressor, caso seja indicado, deve-se iniciar o tratamento profilático no paciente. No entanto, cada caso deve ser avaliado individualmente e o tratamento utilizado precisa obedecer as normas técnicas estabelecidas no Manual de Profilaxia da Raiva Humana, produzido pelo Ministério da Saúde.
A descontinuidade do tratamento vacinal profilático é outra falha grave observada. Não raro, a pessoa toma a primeira dose da vacina e não volta mais para completar o esquema vacinal. Acrescente a este fato, a ausência nas unidades de saúde de um trabalho para efetuar a busca ativa aos faltosos, e assim, completar o tratamento. Estes fatores impedem a adequada alimentação do sistema de informação com o encerramento do caso, pois o paciente não completa o tratamento necessário.
Raiva é uma doença grave. As equipes da atenção básica e vigilância epidemiológica precisam estar atentas quanto ao monitoramento e a avaliação nas nossas salas de imunização e nas Unidades de Atenção Básica.
Neste momento, o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde é de fundamental importância, seja na orientação sobre os primeiros cuidados e para que as pessoas procurarem os serviços de saúde, mediante a exposição ao acidente anti-rábico, e no acompanhamento até o paciente completar o esquema vacinal profilático.
Assim, Fica feito o alerta e o convite para os gestores de intensificar as ações de vigilância e atenção aos casos de acidente anti-rábico humano nos municípios.